quarta-feira, 11 de maio de 2011

CAMINHOS DO ANO CAPITULAR



Vocação é amar, é servir, é relacionar-se com a Trindade, a partir do encontro, da relação com o próximo. Ela é comunicação, isto é, vida de comunhão e de participação. Responder ao chamado é inserir-se na vida da comunidade; é tomar parte ativa na construção do Reino. Vocação não é isolamento, busca de satisfações, de “realização pessoal”. Não é realização de “projetos pessoais”, mas o dar a vida pela defesa da vida (Jo 10,11; 15,13).
Puebla enfatizou bastante este aspecto da vocação ao afirmar: “Este chamamento pelo Batismo, Confirmação e Eucaristia para sermos povo seu, chama-se comunhão e participação na missão e na vida da Igreja e, portanto, na evangelização do mundo” (P, 852). Chamados e chamadas a ser povo, a comungar, a participar na vida e na missão da comunidade eclesial. Estes são elementos que não podem de forma alguma ser esquecidos hoje, neste mundo da pós-modernidade, marcado por uma grande tendência ao individualismo.


Cada vocação é iluminada e fortalecida à luz do mistério de Deus”. A vocação passa a ser entendida como relacionamento pessoal com Deus vivido no interior de uma comunidade bem concreta. Deus chama para um encontro com Ele, a partir das solicitações de um povo que sofre (cf. Êx 3,1-10; Jr 11,4-10). A vocação é, pois, uma “sedução”(Jr 20,7), uma “conquista do coração”(Os 2,16) por parte de Deus, para uma vida de intimidade, de comunhão com Ele. É um convite para ficar com Ele, para participar da sua vida (cf. 1 Ts 4,17; Jo 17,24; 1 Pd 5,1).
Nós sabemos que a santidade é uma prerrogativa exclusiva de Deus (1Sm 2,2). Deus é santo porque é totalmente diferente das pessoas humanas e do mundo (Os 11,9; Is 55,8-9). Ele é santo, diferente, porque ama e acolhe as pessoas, especialmente os pequenos, os excluídos e excluídas (Is 41,14). Mas a pessoa humana é chamada a participar da santidade divina (Lv 19,2; 1Pd 1,15-16; 2,9-10).



A vida religiosa é essencialmente profética, portadora de sopro, de energia, de força que lança na aventura santamente louca e utópica. Para anunciar ao mundo uma boa notícia, quaisquer que sejam as crises, as adversidades, as circunstâncias que moldam a humanidade e a história (Ir. Ana Roy)




Nossa vida é realmente uma ciranda, tem de tudo um pouco. É dinâmica e cheia de novidades. A vida e a morte! Ou seja o todo que forma o conjunto da vida e suas implicâncias. É festa, é dor, é alegria, é trabalho, é decepção,é oração, é riso, é labor, é colheita e recomeço. São apenas provocações, iluminações/ reflexões do nosso cotidiano. (Ir. Silvana)


O que significa Consagração? Retomando o texto do profeta Isaias 42,1-8 que diz:”Eis o meu servo que eu sustento, o meu eleito em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu espírito. Eu te chamei para o serviço da justiça, tomei –te pela mão e te modelei, eu te pus como aliança do povo, como luz das nações.”
Deus nos chama a vida porque nos ama e nos envia em missão porque acredita em nosso potencial. O grande sinal desse chamado é o batismo. Todas as pessoas são consagradas por Deus. A Vida religiosa tem a sua missão, seu compromisso, sua identidade própria. Como diz Ana Roy, a Vida Religiosa vai discernindo o sentido do mundo presente, escondido nos meandros da história e empenha-se em reanimar os encolhidos. É uma tarefa difícil!
Trago também nesse texto as provocações do Pe. Inácio Neutzling. “Somos chamados/as a fazer bem a nossa ação, cabe a nós implantar o positivo. Neste mundo atual da segunda modernidade não basta ter boa vontade , temos que ser filhos da luz. A vida espiritual tem quer tornar –nos mais sensíveis, perspicaz e não babacas. Estamos vivendo uma transição de uma modernidade (revolução industrial)para a modernidade da universalização do conhecimento e da informação. Tudo estar em relação! E essa relação se dá de forma horizontal.”Daí nos perguntamos como está a nossa relação com Deus, conosco mesmas, com a fraternidade, com a natureza....Esse é o grande nó da questão, quando se fala de vida religiosa hoje.
A santidade consiste em ser perfeito no amor (Ef 1,4). O amor é o distintivo dos cristãos e cristãs (Jo 13,34-35; 15, 12-13.17). Ser santo ou santa significa fazer a diferença, ou seja, responder aos desafios de cada época com um amor sem medidas (Jo 15,14-15; Gl 3,25-29). Esta mesma santidade é vivida por caminhos diferentes em razão da diversidade dos carismas (1Cor 12,7; Rm 12,4-8; Ef 4,7) dos serviços e ministérios (1Cor 12,14-21; Ef 4,11-12).A vocação é chamado para amar, é chamado ao serviço (1Jo 4,7-21; Mc 10,45). Tinha então razão Teresa de Lisieux quando, nos seus Manuscritos Autobiográficos, escrevia: “Percebi e reconheci que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, abraça todos os tempos e lugares, numa palavra, o amor é eterno. Então, delirante de alegria, exclamei: ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor”.
Esta visão de vocação como chamado à comunhão e participação nos leva a descobrir, como elemento essencial do chamamento, a vida de fraternidade, de sororidade. Isto quer dizer que faz parte da essência da vocação o desejo, a vontade, o compromisso de “reproduzir” na Igreja e no mundo o tipo de relacionamento que existe no seio da Trindade.
A participação na comunhão trinitária exige a comunhão fraterna entre nós (P, 326-327). Não pode ser sincero um relacionamento de comunhão com Deus quando ele não se repercute também no relacionamento com os irmãos e irmãs. Nossa vocação é um chamado para amar a Deus, mas não ama a Deus quem não ama o seu próximo (1 Jo 4,20). Conseqüentemente não é autêntica aquela vocação que não se abre à solidariedade.
A Trindade permanece como modelo da comunhão que deve brotar da vivência da nossa vocação (P, 212). Esta vida de comunhão, por sua vez, dá autenticidade a nossa vocação. Ela é o sinal mais claro de que estamos realmente vivendo numa intensa comunicação com a Trindade (P, 215).
Diz Puebla, antes de qualquer coisa, o religioso/a chamada a uma missão tem que ser gente, com todas aquelas qualidades que caracterizam o ser humano. Uma atenção particular deve ser dada à capacidade de relacionar-se bem com as demais pessoas, já que a pessoa humana foi criada por Deus como ser social. A vocação é sempre dialogal. Por isso ela só se concretiza “nas relações inter-pessoais, sejam elas as da família, da amizade ou do coleguismo, das comunidades pequenas ou grandes de que participa” o ser humano. Não é possível, pois, falar-se de vocação verdadeira, deixando de lado as exigências da natureza humana.
Do mesmo modo é preciso insistir sobre a dignidade de todas as vocações e, portanto, de todos os membros do povo de Deus. Existe uma variedade de vocações, de carismas, mas todos e todas possuem a mesma dignidade.
Ninguém é superior a ninguém, ninguém é melhor do que ninguém (LG 32). Isto mostra também que todos e todas, na Igreja, são chamados e chamadas ao apostolado. Todos e todas temos a mesma missão. (leiga, de vida consagrada ou ministerial) é a forma concreta que permite a cada batizado ou batizada de dar a sua contribuição própria para a construção do Reino de Deus.
Esta dimensão da vocação quer chamar a nossa atenção para a singularidade de cada pessoa, enquanto “palavra de Deus irrepetível. De fato, se é verdade que o único e mesmo Espírito distribui os seus dons a cada um conforme ele quer (1 Cor 12, 11), é também verdade que todo dom, sem exceção, é para a utilidade de todos, para o bem da comunidade (1 Cor 12,7).
Vida Consagrada nunca foi e nunca será sinônimo de Congregação Religiosa. Esta última é uma organização humana, que podemos comparar ao vaso de argila, dentro do qual carregamos o inestimável tesouro que é o dom de Deus ao mundo - a Vida Religiosa Consagrada. A vocação de um vaso não reside em sua beleza, mas em sua capacidade de ser “lugar onde se deposita o belo, o precioso e o sagrado”.
É duro, mais uma vez, ter que admitir quantas vezes investimos gente, recursos, programas, buscando pessoas com vocação para sustentar a argila, enquanto Deus busca pessoas que revelem ao mundo o dom preciso que o vaso apenas carrega...
Acho que está apontado o desafio que se apresenta à Vida Consagrada hoje:
Assumir e manifestar, definitiva e corajosamente, sua identidade carismática: A Vida Religiosa Consagrada é dom de Deus ao mundo; O verbo assumir nos remete à identidade, mas o verbo manifestar nos remete à visibilidade, à vocação de sinal, de força simbólica.
Talvez este momento seja muito especial para a Vida Religiosa Consagrada. Quando reconhecemos que, do ponto de vista da produtividade, nos tornamos desnecessárias para o mundo, este mesmo mundo nos provoca a recuperarmos nosso específico: somos sinal da santidade que apronta para a presença atuante de Deus. O fortalecimento deste capital simbólico da Vida Religiosa Consagrada no mundo de hoje, é, sem dúvida, o caminho para uma nova legitimação. Desde que seja um sinal histórico, inserido na história, significativo e relevante. Acima de tudo, que assuma sua maior especificidade – a profecia!
No momento em que a santidade puder ser tocada, experimentada através de nosso ser, então todo o nosso fazer se tornará pleno de significado. Em tempos de grandes reformas, a Vida Religiosa deu tudo o que podia de si: reformulou constituições, casas, comunidades, estruturas. Em tempos de grandes transformações, está voltando ao seu dom maior, ao seu essencial, à razão primeira de sua existência - Deus. Não somos merecedoras dessa graça, desse dom. Somos escolhidas a partir da liberdade amorosa de Deus. Não somos nem melhores nem piores que as demais, somos diferentes. Podemos dizer que somos radicais, que vamos diretamente à fonte; crescemos em direção ao profundo, através de profundos encontros com Deus.
Se acreditamos que este é o lugar de origem da Vida Religiosa Consagrada, então podemos dizer que nos encontramos no momento de regressar do exílio, com saudades da “terra santa” que pertence a Deus, e que Ele nos confia para ocupar, em seu nome. Nosso lugar natural não são as margens dos rios da Babilônia, e nossa atitude natural não é choro do desencanto pelos projetos de quem domina, nosso sonho é voltar, vestindo roupas de peregrinos, cantando os salmos da itinerância dos profetas de Deus.
Transformar este tempo de exílio em tempo de graça, é o privilégio vivido hoje pela Vida Religiosa Consagrada. Caminhar de volta a seu lugar de origem, é, não somente nosso desafio, mas nossa obrigação. Não é fácil convencer-nos a deixar as comodidades que o longo período vivido longe do lugar sagrado nos proporcionou, mas é preciso.

Como nos tempos do exílio do povo de Deus, o desejo de voltar ao lugar sagrado, continua sendo uma resposta ao chamado dos que nos esperam, dos que confiam em nosso regresso. Os que nos esperam são os pequenos e empobrecidos, o resto do povo da esperança, os que buscam distinguir os sinais da escatologia, em meio às propostas dos deuses do imediato. Este sinal podemos ser nós!
Regressar significa abandonar o que foi construído durante os tempos do exílio; significa reedificar a casa desde os fundamentos que restaram. Restaram os fundamentos essenciais: a radicalidade no seguimento a Jesus Cristo, o amor evangélico na base de nossas relações e a missão como o chão de nossa resposta vocacional.
Transformado em parábola para hoje, podemos dizer que o exílio foi para a Vida Religiosa Consagrada, a conivência com as propostas de um mundo que tenta excluir Deus de seus projetos. E significa que trilhar o caminho da volta à terra sagrada, deverá ser um caminho de volta à interioridade, à santidade de nossa vocação. Isto somente será possível, se nos deixarmos atrair de novo, se voltarmos a escutar a voz de Deus, se nossa vitalidade se renovar desde ela, se renovarmos nosso ato de fé, se nos deixarmos amassar de novo por suas mãos de Oleiro.
Que fique bem claro o que não é a Vida Religiosa Consagrada:
ü não é estado de perfeição
ü não é um método ascético que nos conduz à própria santificação
ü não é um diploma de boa conduta
ü não é parte integrante da hierarquia da Igreja
ü não se situa na distinção da linha ministerial
ü não é fuga do mundo
ü não é responsável por tarefas justapostas, paralelas ao mundo dos leigos ou dos padres.
Para a grande pergunta sobre nossa identidade, a resposta é simples: nossa identidade é Jesus Cristo. Somos a memória Evangélica para o povo de Deus, que também sonha voltar do exílio. E, porque o Evangelho é boa notícia, somos uma reserva de esperança para o mundo.

(Ir. Mírian Ambrósio)

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