segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Reflexão da Irmã Zélia

As leituras bíblicas (Is 5,1-7; Mt 21,33-43) da liturgia desse final de semana nos levam a

questionar a nossa ação missionária na VINHA, no chão que pisamos, nas comunidades onde atuamos, no local que trabalhamos, enfim, no cotidiano da nossa vida fraterna.

É o nosso SER partilhado muito mais que o nosso FAZER, porque a lógica do REINO está fundamentada na gratuidade, por isso a missão continua a ter sentido mesmo quando nos encontramos numa situação limite, em que não podemos anunciar explicitamente o Evangelho, impossibilitadas de nos locomover, de ir ao encontro das pessoas. Será que nessa situação deixamos de produzir FRUTOS?

Para a sociedade pós-moderna que privilegia o consumo, a produção, a eficácia, a profissionalização, é o fim, não há mais o que fazer...Infelizmente o que permeia nossa ação missionária é a mentalidade da praticidade, valemos pelo que produzimos, e muitas vezes no alto da nossa competência e auto-suficiência, de forma pretensiosa pensamos estar produzindo frutos do REINO? Quando nos deparamos com nossos limites físicos, psíquicos, somos desafiadas, a viver o dom da gratuidade, da entrega, do despojamento. E descobrimos que o nosso fazer é tão relativo, não somos donos(as) da VINHA, da salvação, da verdade, apenas SERVIDORAS DA PALAVRA...Que tal cultivarmos o nosso SER sem que haja necessidade de experimentar os limites impostos pela doença ou outras circunstâncias? Vamos descobrir a tempo o sentido profundo da missão e nos REENCANTAR com o jeito de ser e viver de Jesus....

Por que teimamos em reduzir a missão ao que “fazemos”ou às obras e instituições que temos? O que somos e vivemos carrega o significado, a alma da vida fraterna e torna-se fonte inspiradora da missão, por isso é urgente e necessário resgatar a unidade das três dimensões: experiência de Deus, vida fraterna e missão. Sem essa interação nossa IDENTIDADE é OCA e a missão não passa de agitação vazia. Desencantadas e anêmicas de espírito, as nossas vidas não falam de Deus e não oferecemos espaço para que a PALAVRA faça eco, ressoe e continue a encantar e aquecer corações na prática da justiça e da solidariedade.

De certa forma reproduzimos a mentalidade de uma sociedade cada vez mais secularizada e materialista, nossas preocupações com o futuro pervadem nosso ser e fazer, determinam prioridades e o jeito de estar na MISSÃO. Tal futuro não está focado na qualidade da nossa Vida Consagrada, mas na nossa sobrevivência, na qualificação profissional que garantirão a nossa segurança. É como se na nossa experiência espiritual, não houvesse mais espaço para ação gratuita e misteriosa de Deus, há dificuldade de reconhecer o CHAMADO especial de Deus na própria VIDA.

A vocação à VR é a misteriosa experiência de sentir-se chamado(a) a viver a “forma de vida de Jesus”. A vocação originária da VR é reproduzir a “forma de vida” de Jesus, deixando-se configurar em tudo pelos seus valores e estilo de vida. Porém, no caldo da cultura pós-moderna, a VR corre o risco de ser reduzida cada vez mais a um “espaço terapêutico”de “auto-realização”. Busca-se a si mesma, mas convencida de estar respondendo ao chamado de Deus. Perde-se o sentido da vocação porque se perdeu o sentido de pôr a vida a serviço dos outros. Nesse sentido ESTAR A SERVIÇO, tanto na vida apostólica como na vida fraterna, vem carregada do significado da opção de vida que fizemos. É preciso ter passado pela experiência da perda de si mesmo para descobrir a alegria de realizar-se “perdendo-se’, de ganhar a vida dando-a. Estamos vivendo a cultura das “profissões”, não de “vocações”.... O que é necessário para resgatar o sentido da nossa VOCAÇÃO/MISSÃO e garantir a qualidade de vida da nossa ação missionária?

Que a história dos vinhateiros contribua na reflexão da nossa missão como mulheres consagradas, portadoras das sementes do REINO na VINHA do Pai, carregamos na aparente fragilidade do nosso SER a sutileza do dom da graça, a certeza da FIDELIDADE do Pai que um dia nos chamou e torna possível a travessia desse momento histórico.

Adaptação do texto: “Luzes e sombras da Vida Religiosa Consagrada nos dias de hoje” de Carlos Palácio, SJ- Revista Convergência Setembro/2011.


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