terça-feira, 2 de novembro de 2010

PALMARES: LUTA E RESISTÊNCIA!

“Sou excluído, não por natureza; sou excluído porque assim me fizeram as relações sociais que configuram a realidade onde vivo, o momento em que vivo. E também o discurso daqueles que sempre me desqualificaram” .

Estamos diante do silêncio e do clamor, entre ambos encontra-se o vazio, o distanciamento e a omissão. Damos-nos conta de que esta realidade, além de ser banalizada, é evitada pela consciência de quem não quer ver. O silêncio do poder público perante a sociedade palmarense é perceptível diante da realidade em que se vive, o pós enchentes. A cidade caiu no abandono e esquecimento, de todo os lados emergem os clamores pela água, pela limpeza pública, pela coleta de lixo, pela reconstrução das ruas, saneamento básico, habitação,... enfim, quem devia estar cuidando da população está se distanciando cada vez mais.
Nestes quase dois meses de convivência com o povo e principalmente junto aos abrigados que estão nas barracas, percebemos o quanto é difícil ter os seus direitos garantidos e o exercício da cidadania como a conquista de direitos. Pois, o que vemos em muitos casos é a banalização das pessoas enquanto cidadãos/ãs de direitos. Os quais têm o direito de serem assistidos pelo Estado, mas lhe são negados assistência digna, por uma assistência de faz de conta. Vêem estas pessoas como problemas e querem se livrar a qualquer custo. Assim, ficam aterrorizando-as, a cada quinze dias, para deixarem as barracas, senão vão perder o auxilio moradia, o direito ao trabalho na construção das casas, não vão mais receber comida, serão recolhidos os sanitários e banheiros, como se diz “ficarão ao léu da sorte”... Isso nos causa indignação, porque já é a quarta vez que vem ameaçando e muitas pessoas vão procurando outros lugares para morar. Outras ficam sem saber o que fazerem, angustiadas, aflitas... O querem destas pessoas que perderam tudo? Que saíram com a “roupa do couro”, como disseram muitas vezes. Querem massacrar, humilhar, abanalizar a vida destas pessoas, pois sabemos que o princípio fundamental dos direitos humanos é o direito à vida. Portanto, agir contra esse direito significa violar os princípios dos direitos humanos e estas pessoas estão sendo violadas a cada momento, quando não se oferece uma moradia digna, uma alimentação adequada, atendimento a saúde, favorecimento ao acesso a educação, a segurança, onde muitas barracas já foram arrombadas...
Se foram garantido seis meses de assistência pelo governo federal, por que esta insistência que as famílias deixem as barracas? Que garantia os mesmos tem se saindo do abrigo vão de fato receber as casas? Pois, têm famílias que na última enchente de 2000, estava na lista para receberem as casas e hora da distribuição ficou de fora. Então, como se diz “gato escaldado tem medo de água fria”, apenas a palavra não é garantia e certeza em nosso tempo. Assim, as famílias querem certeza que vão receberem as casas, não apenas cadastros e registros, os quais não lhes garante absolutamente nada, pois ainda tem mais de 30 famílias que não receberam auxilio moradia e nem outros, já se passaram quatro meses da tragédia.
Desta forma, para que amenize a angustia destas pessoas, partimos para uma ação junto ao Ministério Público. Porque o major, representante do Estado, está para dar assistência e auxilio aos abrigados, junto com a assistência social do município e uma ONG contratada pelo Estado ficam ameaçando as famílias que vão deixar de assisti-lo.
Assim sendo, muito nos alegramos quando vemos a teimosia e a resistência de Edílson, de Daniel, de Valéria, de Joelma, de Josias, Silene.... e tantos outros dizendo “não vamos sair daqui enquanto não tivermos certeza que vamos receber a nossa casa”. Mesmo enfrentando o sol que esquenta aquelas barracas em meio às britas, parece mais uma fornalha do que moradia de pessoas humanas. Enfrentam a chuva que mina água por baixo das barracas, pois vimos pessoas tirando água com um pote de dentro, pessoas se sujeitando comer comidas mal feitas, hora queimadas, hora mal cozida, gordurosas que só em olhar causa mal estar, sem dizer o feijão com bicho, dias que recebem para o almoço mortadela com arroz, outra novidade é a sopa de mortadela e assim sucessivamente, não dá para descrever tudo.
De fato, são pessoas que merecem nossa atenção, que alegria sentiram na reunião que tivemos dia 27 de outubro, com eles, e falamos que estamos sabendo de todo o sofrimento que os mesmos vem passando, que estamos acompanhando e que agora não dá mais para suporta a pressão, é hora de unirmos e ir ao Ministério Público saber de fato quais são os seus direitos, perante esta situação de ameaça que estão sofrendo e os deixando sem rumo. Edílson falou “mas o major disse que não íamos ter mais ninguém por a gente aqui e agora vem vocês, nós só queremos a certeza de nosso direito que saindo daqui vamos receber a nossa casa e que o major disse que nos temos apenas a palavra dele, a palavra dele não queremos”. Depois de tantos outros se expressarem, dissemos o caminho para sabermos é partimos para o Ministério Público, onde o promotor vai ouvi-lo e depois vai buscar esclarecimento para dar uma resposta a vocês. Assim, organizou-se uma comissão para o dia 29 irmos ao Ministério Público, como os pobres não têm muita sorte, o promotor não veio, no entanto deixamos um ofício, onde se encontra registrada todas as queixas dos abrigados e ficamos de retornar dia 3 de novembro. Pois, Ministério Público é um órgão do Estado, cuja função é defender os interesses do povo, os da Justiça e o da sociedade.
Portanto, enquanto profissional tenho a convicção que a intervenção de nossa atuação passa pela linha dos direitos se tornando o nosso instrumento de trabalho. Mesmo na sociedade regida pela desigualdade, onde se delimita como parcela da sociedade a qual é negado o poder e a palavra, onde os níveis de saber equivalem ao poder e controle social.
“A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana”.
Vinicius de Moraes

Marisa Ribeiro do Amaral
Irmã Catequista Franciscana
Assistente Social

Palmares-PE, 02 de novembro de 2010.

Grupo no Ministério Público


Antes reconstruindo





Depois



Nossa Casa




As ruas de Palmares


Reunião com os abrigados







Feira sortida







As ruas de Palmares na beira do Rio Una


2 comentários:

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Uma irmandade chamada Provincia São Francisco de Assis. Um grupo de 105 mulheres de várias etnias e regiões desse país chamado Brasil. Estão presentes em vários países desse globo. Tem como opção de vida seguir Jesus Cristo ....

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