domingo, 6 de novembro de 2011

MISSÃO EM PALMARES: UMA LUTA QUE NÃO PODE PARAR


O acompanhamento das famílias atingidas pela Construção de uma Barragem de Contenção das Cheias é uma ação de nossa missão em Palmares. Desde abril temos marcado presença efetiva no Engenho Verde, local escolhido para a obra. Nossa contribuição aos/as atingidos/as, junto com a CPT e o Instituto Sabiá da Mata de Bonito, é na articulação e organização das famílias na luta pelos direitos, pois quando o governo do Estado foi até o local falar para a cúpula política sobre a construção da barragem, sem falar com os/as agricultores/as, consideramos um grande descaso e assumimos estar junto com o povo, mesmo sem termos muito conhecimento.
O Engenho Verde abriga uma construção histórica, a casa grande do Engenho Verde, erguida em 1841 pelo engenheiro francês Louis-Léger Vauthier, onde o escritor e dramaturgo Hermilo Borba Filho nasceu, em 1917.
 A propriedade onde será construída a barragem de Serro Azul não é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas está na lista de engenhos históricos do Estado.
A maior preocupação dos/as agricultores/as é com as negociações para definir a indenização que deve ser dada a eles, já que muitos não têm registro da terra. Desde abril, vem se procurando resposta junto ao governo e nada, em agosto fomos para Recife no Ministério Agrário, o qual convocou uma Audiência de caráter informativa que aconteceu no final de Setembro, num município próximo. Mas desta audiência as pessoas atingidas pela Barragem saíram sem resposta do que vai acontecer com elas.

Nesta sexta-feira (04), a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) realizou uma audiência pública para apresentar e discutir com a população o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) da barragem. O Rima foi apresentado de forma resumida. As informações disponíveis no Estudo de Impacto Ambiental (EIA), solicitado pela CPRH ao empreendedor como parte do processo de licenciamento ambiental não foi apresentado. Percebemos que foi uma audiência formal, para cumprir as regras, pois mais uma vez a questão da população ficou fora das apresentações.


Quem participou do debate questionando alguns aspectos fomos nós que acompanhamos os/as agricultores/as, a CPT, Instituto Sabiá da Mata, Dr. Edson Guerra, promotor agrário do Estado, que se comprometeu conosco de acompanhar o processo e os próprios moradores dos Engenhos. Político nenhum se manifestou, apesar de serem poucos os presentes, até do próprio Estado.
O único secretário presente foi Dr. João Bosco, secretário de Recursos Hídricos e Energéticos. O qual foi conciso na sua decisão, disse que: “vamos indenizar as 18 famílias do eixo da barragem em dezembro e em janeiro iremos começar a construção”, repetindo várias vezes. Afirmou ainda que “com as outras famílias vamos fazendo as negociações até 30 de abril de 2013”.

Esta proposta não agrada a população que teme em sair de suas casas expulsos pelas águas. Segundo seu Zé Ferreira, presidente da associação dos moradores, “Constrói-se o paredão e dá um pé na bunda de nós para irmos morar em baixo da lona, se der outra cheia o povo de Palmares, Água Preta e Barreiros vão pedir para fechar a barragem, e nós vamos para onde? Para debaixo da Lona Preta”.
A angústia é muito grande. Temos acompanhado a aflição deste povo é grande e a insegurança de saber para onde vão maior ainda.

Sete meses se passaram e o sofrimento continua, nem a audiência oficial apresentou algo de concreto em relação às pessoas. Falaram da fauna e da flora. E o povo? Até esta data ainda não terminaram o cadastramento das famílias. O sofrimento dos/as atingidos/as é maior do que os que sofreram as enchentes que foram dias e num baque só. Eles passam meses e meses agonizando, sem resposta de seus questionamentos. Como disse seu João Faustino, morador do engenho Verde, “Vocês querem matar mil pessoas para servir de remédio para dez mil”. De fato ele tem razão, não se pode fazer justiça cometendo uma injustiça, arrancando o povo de sua terra sem garantia de nada.

Sabemos a importância de nossa missão aqui. Vivenciar o nosso carisma junto do povo sofrido, excluído, buscando alternativa de luta e conquista de direitos. Seu Zé Ferreira reconhece isso quando disse no encontro de avaliação de nossa missão: “Nós não fomos a eles (CICAF e CPT). Eles que vieram a nós dizendo que era necessário a comunidade se organizar para lutar pelos direitos. Se fosse pra gente ir a elas, não saberíamos como ir. Que bom que vieram té nós. Eles nos dão as palavras que a gente precisa, palavras como: “estamos com vocês, vamos lutar pelos nossos direitos,... Vocês não vieram dar dinheiro, mas nos deram algo mais importante. Estamos satisfeitos porque vocês vieram nos ajudar”.
Portanto, temos um grande compromisso com este povo, pois fomos nós que fomos até eles e chamamos a CPT para não deixá-los desolados diante do impacto do anuncio da construção da barragem.
Fonte:http://mravacaria.blogspot.com/

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