“A
terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra fere os filhos/as da
terra.”(Cacique Seatle,1855,EUA)
Nós irmãs da
Coordenadoria Todos os Santos em assembléia eletiva assumimos junto com as CPT
(comissão pastoral da terra) Rui Barbosa, Irecê, regional BA e paróquia Nossa
Senhora da Graça a realização do mutirão em defesa do meio ambiente nos dias 05
a 10 de agosto de 2012 na região do Morro do Chapéu.
Morro do Chapéu se
caracteriza por um bioma riquíssimo e muito especial. Esse município, além de
inúmeras belezas cênicas é habitat de diversas espécies animais e vegetais que se
encontram em risco de extinção. Em função da preservação, foram criadas duas
áreas especialmente protegidas: o monumento natural da Cachoeira do Ferro Doido
e o Parque Estadual de Morro do Chapéu. Essa área possui remanescentes de
vários biomas como caatinga, cerrado, campo rupestre, cactáceas endêmicas e
formas esculpidas no arenito onde se abrigam os sítios arqueológicos.
As grandes empresas
estão chegando à região, com o objetivo de explorar minérios e instalar
extensos parques eólicos.
A atividade da
mineração gera profundas alterações, modificando a estrutura física e social do
local, onde está situada a mina. A extração, processamento e transporte dos
recursos minerais causam: desmatamento, modificação da paisagem, utilização de
grandes volumes de água através de poços perfurados, alto consumo de energia,
geração de resíduos, poluição do ar e da água, vibração e rachaduras nas casas,
doenças respiratórias, câncer entre outras.
Em Morro do Chapéu
constam 73 alvarás com uma área de 70.679 hectares à disposição da mineração
nas mãos de 26 empresas e foram detectados 10 tipos de minérios diferentes:
mármore, ferro, barita, granito, quartzito, argila, dolomito, calcário, ouro e
minério de ferro.
A mineração destrói a
natureza, mata nascentes, polui rios, explora os trabalhadores, mata e mutila
pessoas, expulsa agricultores de suas terras e gera violência, alcoolismo e
prostituição.
A energia eólica, ou produção
de energia a partir da força dos ventos através de pequenos cataventos, começou
ser implantada no Morro do Chapéu. As regiões onde os parques eólicos estão
operando revelam que toda área ocupada pelos aerogeradores é gravemente
degradada, terraplenada, fixada, fragmentada, desmatada, compactada, com
alteração da morfologia, topografia e fisionomia.
Com o objetivo de
conscientizar as comunidades sobre os impactos ambientais desses grandes
projetos, é que uma equipe de agentes se colocou em marcha no mutirão em defesa
do meio ambiente, visitando, reunindo e conscientizando o povo sobre as
ameaças, destruição, poluição, expulsão da população nativa de seus territórios, e tantos outros
problemas.
Participaram do mutirão,
23 agentes da Diocese de Rui Barbosa, Irecê, Jacobina, comunidades de Morro do
Chapéu, Irmãs Catequistas Franciscanas da Coordenadoria Todos os santos das
fraternidades de Salvador, Itaberaba, Assentamento Beira Rio e Morro do Chapéu.
Numa semana de intensa
movimentação, foram detectados muitos problemas da conjuntura local: migração,
desertificação da região, seca extrema, trabalho escravo nas regiões onde o
povo migrou, alcoolismo, morte dos principais rios, desaparecimento das fontes
de água, salinização de poços artesianos,... Muitos agricultores que fizeram
contratos com as empresas de energia eólica já estão sendo prejudicados, muitas
questões de título de terra, contratos mal feitos e enganadores, grilagem e
compra de terra por um preço irrisório.
As equipes visitaram
mais de 50 comunidades, escolas, grupos culturais, associações, cooperativas,
comunidades quilombolas, bairros, ruas, roça do povo, frentes de serviço....
No primeiro e segundo
dia, três equipes visitaram as escolas municipais, estaduais e privadas. Foi um
trabalho intenso de explanação do assunto, debates, roda de conversa,
realização de oficinas sobre a temática. Algumas escolas se comprometeram a dar
continuidade com o estudo do material incluindo a temática em algumas
disciplinas do currículo escolar.
Em Morro do Chapéu há
muito tempo existe um trabalho ativo, dinâmico e concreto com jovens e com
comunidades a respeito das questões ambientais.Uma esperança está no ar!
Para a maioria das
pessoas que participaram, o mutirão foi uma chamada de atenção para pensar, refletir, questionar,
se organizar para enfrentar os grandes projetos do capital, do agronegócio...
Surgiram várias
propostas e encaminhamentos como: formação de uma equipe que aprofunde esse
assunto junto com a CPT da diocese de Irecê e a CPT regional para aprofundar
também o assunto em outras comunidades onde se faz necessário; articular todos
que receberam a visita a fim de traçar um plano de ação; fazer um trabalho de
formação das lideranças a respeito desses projetos em nível de setor;
estabelecer uma parceria com o grupo agroecologia (Jubilino) e outros.
Na sexta feira, todas
as equipes se encontraram e fizeram uma profunda avaliação, seguida de um
delicioso almoço.
Pela
equipe
Irmã
Silvana Sampaio Gomes.
Parabéns pela iniciativa, não podemos deixar que os grandes projetos tirem a esperança dos pequenos em continuar nas suas terras.
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